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Governança baseada em dados pode alavancar indústria 4.0

Tempo de Leitura: 4 minutos

Atualmente, a transformação digital na indústria está entregando não somente produtos, mas também os dados relacionados a eles. Os inteligentes produzem dados, já os analógicos têm características e rastreabilidade, que mostram ao fabricante a cadeia de valor de sua operação. Ocorre que a indústria 4.0, no Brasil, precisa pensar na governança baseada em dados. Mas aí vem a provocação: os dados são de quem? São daqueles que geram o produto ou dos que os manipulam?

Como a indústria não é especialista em análise de dados, nem em Inteligência Artificial ou cloud computing, a resposta é que ela precisará contar com uma rede de parceiros de tecnologia para criar um ecossistema de dados. Nesse sentido, a ABII tem participado de eventos e discussões sobre o Gaia-X, que é o programa-mãe do Catena-X e busca garantir a soberania dos dados das pessoas jurídicas.

Neste conteúdo, veja o que é o projeto Catena-X, quais são as empresas que participam e como ele pode alavancar a economia de dados para a tomada de decisões de um negócio.

O que é Catena-X

Catena-X é uma plataforma virtual, cuja finalidade é oferecer um ambiente para a criação, operação e uso colaborativo de dados de ponta a ponta ao longo de toda a cadeia de valor automotiva. Criada na Alemanha, fazem parte do grupo fabricantes de automóveis, provedores de tecnologia, fabricantes de materiais e autopeças, além de  dezenas de pequenas empresas. Entre as empresas do grupo, destacam-se:

  • as montadoras BMW, Ford, Mercedes-Benz, VW, Volvo, Stellantis;
  • provedores de tecnologia, como Microsoft, SAP, IBM, HP;
  • fabricantes de materiais e peças, como ZF, Henkel, Denso, Continental, BASF, Brembo, Magna, ThyssenKrupp, Valeo, Schaeffler, T-Systems.

O grupo, que tem operações no Brasil por meio de suas subsidiárias, requisitou a formação de uma joint venture ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O objetivo é ter uma rede virtual que integre determinadas operações das companhias e a cadeia de suprimentos, possibilitando o processamento de dados e, assim, o aprimoramento de suas tomadas de decisões.

Muitos fornecedores na cadeia automotiva estão incertos sobre o valor adicionado ao compartilhamento de seus dados. Além disso, eles se preocupam com a segurança dessas informações. Consequentemente, há uma falta de modelos de negócios, mecanismos de incentivo e tecnologia correta. A ideia por trás do Catena-X é conectar fabricantes de automóveis, fornecedores e provedores de serviço da cadeia de fornecimento como um todo.

Criação de joint venture do setor automotivo

Na última sessão ordinária de 2022, o Cade aprovou joint venture entre empresas do setor automotivo para o compartilhamento de informações, no âmbito do Gaia-X e Catena-X. A aprovação ficou condicionada ao cumprimento de algumas restrições. Em seus primeiros três anos de operação, a joint venture não terá foco nem ativos no Brasil.

Agora, no mês de janeiro de 2023, a BMW publicou um conteúdo em sua página falando da inovação por meio de cooperação. E entre as últimas notícias, o jornal Valor Econômico publicou reportagem com o seguinte título: “Catena-X diz que Cade impediu operação global do grupo”. Parece ainda existir alguns pontos polêmicos a serem superados para que o modelo funcione adequadamente no Brasil.

Segundo Philippe Colpron, head da ZF, o Catena-X “respeita todos os importantes valores de privacidade de dados e cibersegurança. Além disso, é uma oportunidade para mecânicos, oficinas e empreendedores de contribuir em termos de melhorias veiculares e melhorar a experiência do cliente”. A formação do grupo na Alemanha ocorreu sem maiores problemas. No entanto, é importante destacar que o governo alemão também está envolvido no projeto.

Fórum de discussão sobre governança de dados

Em 2022, o diretor da ABII, Claudio Goldbach, participou do workshop “Governança para uma economia baseada em dados: tendências (inter)nacionais” no 12º Fórum da Internet do Brasil (FIB-12). A discussão contou com a participação de especialistas e girou em torno das iniciativas que já vêm sendo tomadas internacionalmente, como o Catena-X, e para que empresas no Brasil criem uma economia baseada em dados, para preservar, gerenciar e extrair valor deles como insumos estratégicos.

Segundo Miriam Wimmer, da ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados), a governança de dados no Brasil não está sistematizada na forma de uma estratégia. Na verdade, conta com diferentes vertentes associadas à ideia de fomentar seu uso inteligente, para promover crescimento econômico, bem-estar social, eficiência do poder público, em campos que vão da saúde ao transporte.

O principal desafio para sistematizar a discussão sobre dados, de acordo com ela, reside na necessidade de coordenação do ecossistema de atores públicos e privados para tomar decisões regulatórias ou econômicas sobre o que se pode fazer com os dados, suas potencialidades, benefícios e como amenizar eventuais riscos que surjam.

Brasil pode ser protagonista da América Latina 

De acordo com Lorrayne Porciuncula, da Datasphere Initiative, os países da América Latina estão avançando lentamente em relação ao contexto regulatório e institucional de estratégia normativa sobre dados. Ainda, de acordo com o relatório Digital Trade and Government Hub, eles não estão com pontuações tão baixas quanto em outras regiões.

Segundo a métrica, o Brasil tem 70 pontos de 100, que são os scores de estratégia de performance responsável de governança de dados. Segundo ela, no entanto, a América Latina precisa se engajar mais internacionalmente, promovendo uma visão combinada de economia política dos dados para a região. Nesse sentido, o Brasil pode ser protagonista na iniciativa, mas precisa ser uma estratégia do governo.

Veja mais sobre o evento (nos primeiros 20 minutos você confere a fala do representante da ABII sobre o tema):

O que é o projeto Gaia-X

O tema governança de dados já vem sendo discutido mundialmente. No ano passado, a ABII promoveu um evento sobre a iniciativa europeia de governança de dados por meio da Gaia-X – European Association for Data and Cloud (AISBL).

O Gaia-X é um projeto conduzido por representantes do governo, empresas e universidades da França e Alemanha, junto a mais de 300 parceiros em todo o mundo. Trata-se de uma estrutura de software de controle e governança, que implementa um conjunto comum de políticas e regras que podem ser aplicadas a qualquer setor de tecnologia cloud/edge existente para obter transparência, controlabilidade, portabilidade e interoperabilidade entre dados e serviços.

Seu objetivo é impulsionar a soberania digital por meio de uma infraestrutura de nuvem federada (autodeterminada e independente), que reduz a dependência de provedores individuais. Com uma governança de dados sendo implementada no Brasil, o próximo passo é a criação de casos de uso que sirvam de exemplo para a adoção em escala do método de transferência de dados.

Para saber mais sobre a evolução da indústria 4.0, continue acompanhando o blog.

Sobre a ABII

ABII – Associação Brasileira de Internet Industrial, fundada em agosto de 2016, atua com o objetivo de promover o crescimento e o fortalecimento da internet industrial das coisas e da indústria 4.0 (IIoT & I4.0) no Brasil. Coordena um ecossistema com provedores, usuários e especialistas em tecnologia e instituições de ensino. Num ambiente colaborativo reúne empresas protagonistas do mercado e é referência no movimento de transformação digital. Fomenta o debate entre setores privado, público e acadêmico, a geração de conhecimento e o intercâmbio tecnológico e de negócios.

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